Primeiramente, para quem ainda não sabe, A Flecha de Fogo é o mais novo romance de literatura fantástica ambientado no mundo de Arton, cenário de Tormenta. Escrito por Leonel Caldela, mesmo autor da aclamada Trilogia da Tormenta (O Inimigo do Mundo, O Crânio e o Corvo e O Terceiro Deus) e publicado pela Jambô Editora, o título tem mais de 700 páginas e trata de uma das profecias mais famosas do cenário, que prevê o surgimento, ascensão e queda de Twor Ironfist, o General da Aliança Negra dos Goblinóides.
Ainda não terminei de ler o livro. Concluí somente a primeira parte, Profecia. Mesmo assim decidi colocar aqui minhas primeiras impressões sobre o título, para não deixar passar mais um final de semana sem atualização no blog.
A primeira coisa a se dizer sobre A Flecha de Fogo é seu tamanho. Com 730 páginas (incluindo o apêndice), é o maior título lançado para Tormenta até agora. Devo dizer que embora seja algo impressionante, o tamanho torna a leitura um pouco incômoda, já que faz dele um livro pesado e volumoso e dependendo da situação, difícil de manusear. O romance é sub-dividido em três grandes partes (Profecia, Império e Eclipse) e no início me perguntava se não valia a pena ter dividido estas partes em três livros distintos. Mas a verdade é que Império é bem mais extenso que os demais, e não existe um "final" do término de cada parte; muita coisa fica em aberto. Além disso, produzir três livros ao invés de um encareceria o processo como um todo, e nós leitores teríamos que gastar bem mais para ter acesso à crônica completa. Então no fim, acho que foi melhor assim.
A diagramação do livro está muito boa, belas imagens ilustrando pontos chave do volume. A revisão também está legal; geralmente sou bem chato com erros gramaticais e de concordância, mas não lembro de ter visto nada de muito destaque (eles existem, mas são muito poucos e não atrapalham a leitura). Uma coisa me desagradou. Em alguns pontos haviam linhas nas quais todos os espaços entre as palavras pareciam ter sido apagados, fazendo com que toda a linha se transformasse em uma gigantesca palavra formada pela junção de várias palavras. Em uma ocasião, lembro que tive que parar e ler com bastante calma para identificar as palavras individualmente. Fiquei com medo que isso se tornasse corriqueiro ao longo do livro... mas ocorreu umas duas ou três vezes nos primeiros capítulos, depois não vi acontecer de novo. Acredito que tenha sido algum problema durante a edição...
Agora vamos ao que interessa, a narrativa. A primeira grande diferença entre A Flecha de Fogo e a Trilogia da Tormenta é a maneira como a estória é narrada. Na Trilogia, a estória é contada na terceira pessoa, o "livro" conta o que está acontecendo. Já n'A Flecha de Fogo a estória é contada sob a perspectiva de um personagem, o jovem acólito Corben, membro da ordem de Astrólogos de Thyatis de Sternachten. Quem acompanha a Dragão Brasil já teve a oportunidade de conhecer essa cidade na edição #137 (quem não acompanha, pode clicar no link para assinar; o primeiro nível custa só R$ 7,00 ao mês). Enfim, o que importa é que Corben logo se vê envolvido e viajando com um grupo de aventureiros que se intitula a Ordem do Último Escudo, os últimos protetores contra a Aliança Negra. O problema é que o jovem passou por uma situação conturbada e não sabe muito o que aconteceu. Nem sequer tem certeza se seus novos aliados são realmente "aliados"! E este é um ponto alto desta primeira parte. Caldela transmite as incertezas e dúvidas do personagem com tanta maestria que é difícil não ficar agoniado a cada página, incerto sobre quem é amigo e quem é inimigo.
Outro ponto alto é o ajuste das pontas soltas. Não lembro bem onde li isso, mas uma das propostas do Leonel era não ignorar várias das pontas soltas sobre o tema da profecia da flecha de fogo. Uma delas esta lá, logo na primeira parte. Em meados dos anos 2000, na extinta Revista Tormenta, J.M. Trevisan publicou o conto O Cerco (que mais recentemente também fez parte da antologia de contos Crônicas da Tormenta). Na época o conto era apresentado como "as primeiras revelações sobre a Flecha de Fogo". Entre os personagens do conto estavam o elfo Thalin e uma menina élfica de cabelos vermelhos (que na época não tinha nome, se me lembro bem). O conto sugeria que a menina élfica poderia ser a flecha de fogo que derrotaria Twor Ironfist. Muito mais tarde li em algum lugar (ou ouvi dele mesmo, não lembro) que o próprio Trevisan se arrependeu daquela resolução e queria que as pessoas esquecessem o conto, que o ignorassem. Mas os fãs não queriam ignorar. Era uma ponta solta, uma possível explicação para a profecia. E não foi ignorado pelo Leonel. Thalin e Laessalya (a menina élfica de cabelos vermelhos) estão no enredo de A Flecha de Fogo. Acredito que outras pontas soltas deste tipo ainda podem aparecer nas próximas páginas (ainda espero ver alguma menção a Lariandhas Arianathanor, o arqueiro arcano que, segundo lendas, voltará dos mortos e dispara-rá a flecha de fogo).
E o que dizer do paladino Avran Darholt, líder da Ordem do Último Escudo? Difícil falar dele sem dar spoiler, mas eu diria que ele é, no mínimo, curioso. Um personagem envolto em suspense, um paladino completamente fora do padrão. Ainda tenho muitas ressalvas com relação a ele e espero que seja desenvolvido em mais detalhes nas próximas páginas.
Por enquanto é isso o que tenho a dizer sobre o romance. Fãs de Tormenta, leiam, sem sombra de dúvida. Fãs de fantasia em geral, também vale a pena; a narrativa é muito boa e envolvente e o cenário bastante rico. E se você não conhece Tormenta, não se preocupe, pois boa parte da estória ocorre em Lamnor, o continente ao sul, região que mesmo os fãs conhecem pouco.
E boa leitura.
Ficha Técnica
Gênero: Fantasia.
Autor: Leonel Caldela.
Formato: 15,5 x 23 cm, 736 páginas, brochura.
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